A Dom Papyrus nasceu recentemente, mas foi gerada há muitos e muitos anos — nas entrelinhas de uma vida marcada por recomeços.
A sua história começa no sertão de Pernambuco, onde uma menina de uma família humilde aprendeu cedo que os livros podiam ser janelas abertas em meio à escassez. Filha de uma mãe batalhadora e de um pai que enfrentava o peso do alcoolismo e do vício, a infância dessa menina foi feita de coragem e fé.
Aos três anos, mudou-se com a família para São Paulo. No caminho, a mãe perdeu a bolsa com todos os documentos — inclusive a certidão de nascimento da menina — o que a impediu, por um tempo, de frequentar a escola. Mas o destino encontrou um jeito curioso de colocá-la em sala de aula: uma vizinha afetuosa, que a via como se fosse sua boneca, quis vê-la estudando. Para isso, usou a certidão de nascimento de outra criança chamada Regiani, e assim ela foi matriculada na escola com aquele nome emprestado.
Nos primeiros dias, estranhava quando as professoras a chamavam por “Regiani” — demorava a responder, afinal, não era o seu nome. Até que a farsa foi descoberta, e ela precisou deixar a escola. Guardou, contudo, o cheiro da lancheira vermelha e o sabor do recreio — lembranças simples que ficaram como símbolos da sua vontade de aprender.
Só voltou aos estudos aos nove anos, já sabendo ler e escrever, graças à mãe que lhe ensinou as primeiras letras segurando sua mão. Desde então, a sala de aula tornou-se abrigo. Foi uma aluna curiosa, falante, criativa. Teve professores inesquecíveis, como a professora Cássia, que a encorajou a não desistir, mesmo nos dias mais difíceis.
E foi numa oficina gratuita da prefeitura — de reparo e restauro de livros — que o amor pelos livros ganhou forma concreta. A cada página consertada, nascia uma nova esperança. Mais tarde, começou a restaurar Bíblias da sua comunidade de fé, muitas vezes sem cobrar nada — apenas pelo prazer de devolver vida ao que estava gasto.
A vida, porém, não foi fácil. A infância e a adolescência foram marcadas por dificuldades materiais e pela violência doméstica. Mas aos 14 anos, um novo capítulo começou: a fé. Ao conhecer o Evangelho, tudo mudou. A leitura da Bíblia tornou-se paixão e escola. Lia como quem busca ar. E foi ali que descobriu o seu propósito — servir, ensinar, criar, transformar.
Seguindo esse caminho, estudou, trabalhou e buscou o seu lugar no mundo. Passou por escritórios, cursou Comunicação Social com ênfase em Relações Públicas, participou de projetos sociais e deu aulas para adolescentes em comunidades carentes. Serviu em missões no Brasil e na Europa, trabalhou na área administrativa e gráfica, e, ao lado do marido, dedicou a vida a Deus e às pessoas.
Em Portugal, enquanto cursava Marketing e Comunicação, nasceu o que hoje é a Dom Papyrus. O nome veio como uma inspiração — símbolo da Palavra, do registro e da eternidade das ideias. O projeto original era uma livraria com café e espaço de eventos: um lugar para livros, pessoas e conversas com propósito. Mas a Dom Papyrus cresceu para além das paredes — tornou-se uma editora independente, um espaço de fé, arte e cultura onde palavras ganham corpo e livros ganham alma.
Hoje, a Dom Papyrus é o reflexo dessa caminhada — de quem nasceu entre dificuldades, mas aprendeu que o conhecimento liberta, a leitura transforma e a palavra cura. Mais do que publicar livros, a Dom Papyrus acredita que cada obra é um projeto de vida, e que um livro pode libertar tanto quem lê quanto quem escreve. ✨